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Modelando de forma não-matemática



Para quem defende que tudo segue a linguagem da natureza - para mim, a matemática -, um texto com esse título parece indicar uma desistência ou reformulação de princípios. Na verdade, nem uma coisa nem outra. Apenas uma mudança de abordagem!


Em conversas com alunos, conhecidos, familiares e afins, quando o tema “qualidade do ensino-aprendizagem” entra na roda, sempre defendo a bandeira de que não sairemos do canto (qualidade de vida no espectro geral) enquanto não entendermos que o ato de solucionar (qualquer coisa na vida profissional, pelo menos) exige pensamento matemático e, portanto, é por aí que deveríamos seguir. Sempre que ajo assim, ouço - como se fosse uma música de fundo do filme de minha vida - a cantiga: “falou o engenheiro que não entende nada das outras áreas”.


Exageros à parte (não meu, mas de minha audiência, naturalmente), creio que ainda em vida verei isso ser provado de modo inconteste. Mas até que alguma vivalma faça isso, contento-me em ver encontros recentes como os da Fecomercio-SP, em que se discutem coisas como a “criatividade e imaginação são as principais fontes de riqueza no mundo atual”, no qual o consultor John Howkins aponta também que “(...) Existe um elemento transcendental na criatividade, não dá para obtê-lo em um produtor repetitivo em massa. É o recurso bruto da economia criativa”, e com artigos como os do MIT Sloan School, 4 coisas que você precisa saber sobre soft skills, que defendem que “Definir um problema é a habilidade mais subestimada em gerenciamento”. E para que isto se dê, são necessários:

  • Uma referência a algo com o qual a organização se preocupa e conecta isso a um objetivo claro e específico.

  • Articulação clara da lacuna entre o estado atual e o objetivo específico.

  • Alvos mensuráveis.

  • Neutralidade em relação às causas e soluções.

  • Um escopo alcançável e apropriado.


Certo, entendi! E onde a matemática entra nessas suas elucubrações, “meu querido”? E é aí onde as cobras dormem e onde exporei minha hipótese: em tornar toda abordagem em torno de um desafio a mais fria possível, tendendo a eliminar todas as subjetividades e vieses, construindo verdadeiros boundary objects, ou objetos de fronteira, necessários para que se possa trabalhar em cima de forma sólida. Ter clareza matemática separa os bons resolvedores dos outros.


Traumatizados por pseudo-docentes em matemática


Sobre “clareza matemática” e a cantiga, preciso esclarecer. A matemática necessária aos negócios, a qual sempre me refiro, não inclui unicamente aquela austera, canônica, que exauri os alfanuméricos grego, latim e romano, os quais poucos iniciados têm o direito de manusear. Refiro-me à natural, àquela que nos permite distinguir o que pode ser medido e o que pode ser classificado; “quanti x quali”. Refiro-me à matemática tácita, inerente a todo ser humano desde a tenra infância, que não pode ser totalmente explicitada mas que, infelizmente, é desconsiderada e maltratada pelos pseudo-docentes em matemática que encontramos em nossas vidas, daí os traumas e a geração daquele público que a detesta. Cansei de ver professoras de um dos meus filhos nos sinalizar que “ele bota as respostas certas, mas não acho os cálculos”, e quando pedimos para o boy expor, ele esnoba e diz: “só para cálculos mais difíceis”. Na dúvida, passamos para ele equações simples e ele dá a resposta antes de inserirmos o símbolo de igualdade. É dessa matemática que falo e que nosso sistema educacional insiste em matar. Assim, daqui para frente quando falar que o ato de solucionar coisas exige pensamento matemático, refiro-me a esta abordagem, tolhida pelos pseudo-docentes que a vida nos coloca no caminho.


Substância versus Campos. Quantificável versus Qualificável.


Para que o exercício adiante fique interessante, admitam temporariamente os conceitos sobre estes dois recursos, que constituem tudo no universo.


Substância. Qualquer coisa com massa não nula e que ocupa um espaço maior do que zero. Objetos de qualquer nível de complexidade, desde itens simples até sistemas complexos. Copo, carro, motor, pedaços de plástico, TV, gente etc., pertencem a este recurso.


Campo. Consiste de portadoras de energia, não importando sua origem e massa. Um campo pode ser considerado uma ação ou a intenção de realizá-la, como, por exemplo, uma modificação da substância. Campos de radiação, cheiro, calor e até não tangíveis como inveja, raiva etc.


E dentro destes dois recursos, substância e campo, existem aqueles que podem ser quantificados e aqueles que só podem ser qualificados. O peso de um objeto e seu odor são exemplos respectivos.


A “desmatematização” das coisas


Admitindo que você engoliu os conceitos acima e concorde que tudo é uma mistura de massa e energia, assim como muitos prêmios Nobel. Você tacitamente aceitou que tudo pode ser compartimentalizado, modelável, e.q.u.a.c.i.o.n.á.v.e.l! Logo, podemos falar a mesma língua, a da matemática. Veja como ficará mais fácil criar projetos poderosos utilizando a matemática. (Ops, falha minha: a promessa aqui foi a de não criar coisas com aspectos matemáticos; pelo menos não explicitamente. Esqueça o que eu disse).


Continuando, minha gente que acha que “não gosta de matemática”, vou fazer uso de uma manobra comum de minhas aulas de negócios. Camuflarei a matemática (uma salva de palmas: clap, clap, clap!). Para isso, utilizarei meu velho artifício: o operador MISTO-DE! O homem agora endoidou…. Será mesmo? Fiz isto na AC Por um conceito integrador para a Inovação, quando introduzi meu conceito de inovação da seguinte forma:


Inovação = Criatividade ✳ Disponibilização.


Saquei nada, maestro do implicata calculation (acho que é “matemática implícita” em latim?!). Pois bem. Quando trabalhei este conceito lá atrás, em uma turma de graduação pré-covid, falei que inovação era um “misto de” criatividade e entrega. Naqueles dias, não tinha a noção do poder de execução que o operador MISTO-DE tinha de desmatematizar as coisas, embalar em vestes mais simples e diminuir a ojeriza daqueles que insistem em dizer que “não gostam de matemática”, tornando as coisas mais aceitáveis. Então a equação original, sem matemática envolvida, começou na verdade como:


Inovação é um MISTO-DE Criatividade & Disponibilização


Essa sentença expressa, na verdade, o resultado da associação entre um campo (criatividade) e uma substância ou algo tangível entregável (produto ou serviço). Não gostaram. Posso avançar mais. Acompanhem-me na tabela as outras misturas não matemáticas (você pensa que não!) de substância e campo.

Misturas de substâncias e campos e seus respectivos graus de complexidade


Finalizando…


Creio que consegui te enrolar a ponto de você pensar que pode fugir da matematização das coisas. A mensagem que quero deixar é de que a matemática ajuda a pensar em foco, refina a capacidade de pensamento, reduz a incerteza pela redução dos vieses, e que não se precisa forçar erudição pela ocultação da verdade em equações complexas. Pode-se, com abordagens simples como o operador MISTO-DE, entender melhor os modelos de negócios (e outras coisas da vida), simplificar tudo, e nos fazer melhor entender. Esse operador eu criei, mas qualquer pessoa é livre para criar um melhor. Fim de trauma!


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